Série: Jardinar é Resistir. Palavras para cultivar o silêncio, o cuidado e a reconexão com a Terra.
- ciclopoetica
- 30 de mai.
- 3 min de leitura
Atualizado: 24 de jun.

“Podemos resistir à desconexão e ao esquecimento ao regar uma planta, alimentar um pássaro e respirar profundamente.”
Silvia S. Sant'Ana
Dê um play antes de começar a leitura. A música de Yiruma, River Flows in You pode tornar sua experiência de leitura mais agradável e, ao mesmo tempo, reflexiva. Ajuste o volume, feche os olhos por alguns segundos e respire… “Só então, permita-se seguir na leitura — e, quem sabe, ceder à pausa pode ser um ato revolucionário de respiro e encontro com seus tesouros.”
Apresentação da série Jardinar:
“Jardinar é Resistir” é um manifesto filosófico contemporâneo de resistência e reverência — um convite à pausa, à desaceleração e ao reencontro com a Terra.

A temática dessa série está enraizada na ancestralidade da vida, dialogando com tradições filosóficas que, apesar de distintas, se entrelaçam no reconhecimento do sagrado em tudo o que vive. Jardinar é mais que cultivar plantas: é cultivar presença, ritmo e sentido.
Ao nos dedicarmos à terra — seja num canteiro ou em um pequeno vaso — somos naturalmente levados a lembrar das estações, do ciclo da vida, da agricultura, das flores, da colheita e também da morte. É um gesto que nos devolve à percepção de que tudo nasce, cresce, transforma-se e retorna à terra.
Nesse ato simples, entramos em ressonância com um campo de sabedoria ancestral, que vibra além do tempo linear. O conceito de campo mórfico, como proposto por Rupert Sheldrake, nos ajuda a compreender que existe uma memória coletiva da natureza — uma rede de informações invisíveis, mas atuantes, que se expressa em padrões vivos e repetitivos. Ao cuidarmos de um jardim, não apenas tocamos a terra: somos tocados por ela, por essa sabedoria que atravessa as eras e reverbera em nosso corpo.
Nosso corpo, afinal, é feito dos mesmos elementos da natureza: terra, ar, fogo, água e éter. Ao interagir com o jardim, retornamos à nossa composição mais essencial.

É nesse espaço que deixamos os excessos da vida moderna — o consumo, a velocidade, as distrações — para simplesmente respirar, ouvir, tocar, ser.
A troca de energia é sutil, mas profunda. O simples hábito de visitar, cultivar e permanecer entre árvores, pássaros e flores transforma nossa mente, nosso corpo e nosso coração. Estudos da neurociência e da ecopsicologia confirmam o que a sabedoria ancestral já sabia: a natureza cura, acalma, reorganiza.
Jardinar é, assim, um ato de presença e de resistência amorosa. Uma forma silenciosa de lembrar quem somos e a que pertencemos.
Intenção para Jardinar:
É um convite a resistir a tudo aquilo que já não cabe mais na agenda e a se entregar àquele momento de pausa — tão restaurador, necessário e, tantas vezes, evitado. Um convite a retornar à terra, sujar as mãos de lama e perceber o nível de estresse diminuir à medida que respiramos e reverenciamos nossa presença diante dos elementais.

Lembrando: sem lama, não há lótus.
Que, ao aceitar esse convite, cada pessoa possa se conectar com seus tesouros enterrados entre as raízes de uma árvore — memórias esquecidas, desejos antigos, partes de si que pedem luz, cuidado e renascimento.
Respiro filosófico:
A Série "Jardinar é Resistir" inspira-se em Epicuro, que dizia: “Se queres ser rico, não aumentes os teus bens, mas sim diminui os teus desejos”, indicando na simplicidade o caminho para a paz da alma. Com os pré-socráticos, aprendemos a ouvir os ritmos da natureza — no fluxo de Heráclito e nos elementos de Tales habita a sabedoria do mundo. Já Byung-Chul Han, em A Sociedade do Cansaço, alerta: “O excesso de positividade gera uma violência neuronal” — por isso, parar, tocar a terra e respirar tornou-se um gesto radical de resistência.

Síntese:
"Desisti dos excessos que me sufocavam. Fui para o jardim, respirei e me inspirei. Cheguei aqui assim."
Convite:
Você já reparou como uma imagem — um postal, essa tecnologia poética da conexão — pode ser um portal? Uma fresta aberta no cotidiano, por onde o olhar atravessa e algo dentro da gente se move. Quando um portal se abre, é sinal de que chegou o momento de germinar nossos sonhos mais íntimos.
Os postais são sementes simbólicas de pensamento, sensação e memória. Eles nos convidam à reflexão e à conexão. Cada um carrega um fragmento de mundo, um espelho, um símbolo, um chamado.
Se você sentir o convite ecoar aí dentro e quiser revisitar comigo esses caminhos, ficarei muito feliz em te ouvir.
Gratidão por estar aqui comigo!
Livros que resistem:
EPICURO, Carta à Meneceu
ESTÉS, Clarissa Pinkola - O Jardineiro que Tinha Fé
HAN, Byung-Chul - Louvor à Terra
SMITH, Sue Stuart - La Mente Bien Ajardinada
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