O Olhar que Abraça o Imperfeito — Lições do Wabi-Sabi e da Serendipidade
- ciclopoetica
- 17 de jun.
- 3 min de leitura
Atualizado: 20 de jun.

"O Wabi-sabi resolveu meu dilema artístico sobre como criar coisas bonitas sem ser capturado pelo materialismo deprimente que existe em geral em torno da arte. "
Leonardo Koren - Wabi-sabi para artistas, designers, poetas e filósofos.
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Deixe que a música “Stay”, de Hans Zimmer, embale sua travessia por estas palavras, imagens e sentidos. Permita-se desacelerar, respirar, olhar... sem pressa, sem querer entender tudo. Apenas sinta.
Às vezes, tudo que a gente precisa... é apenas olhar.
Sem pressa. Sem querer entender, nomear, decifrar. Só olhar. Respirar e deixar que a imagem fale — do jeito que ela quiser.
Quanto mais olhamos... menos sabemos

A fotógrafa Diane Arbus tem uma frase que me atravessa profundamente: ‘Quanto mais olhamos para uma imagem, menos sabemos.’ E talvez — só talvez — a beleza more exatamente aí: no não saber, no mistério, nesse intervalo delicado entre o que os olhos veem e o que o coração sente.
Percebo, muitas vezes, o quanto nosso olhar anda treinado — ou quem sabe, domesticado — a tudo que é alinhado, consertado, maquiado, pintado, polido, retocado... E, quando se depara com o torto, o quebrado, o riscado, o desbotado, com aquilo que carrega lama, ranhuras, manchas, falhas... ah, não tarda a sussurrar: ‘Que estranho... que feio...’ — como se só fosse digno de apreço o que se encaixa, o que cabe no molde, na régua, na lógica da perfeição.
Nos fizeram acreditar — ou tentaram — que beleza é sinônimo de ordem, de lógica. Mas não, né? Não é. Beleza é — sempre foi — sinônimo de poética. A natureza nos ensina que a beleza está na efemeridade, na simplicidade e em tudo que nasce, vive e morre. A beleza que em muitos momentos está oculta.

O Wabi-Sabi: a estética do imperfeito
Não é todo mundo que vê beleza em uma árvore torta, ou queimada. Mas, há culturas que conseguem extrair o mais sublime êxtase de uma folha caída no chão, de um fruto ressequido, de uma pena que se desprende suavemente das asas de um pássaro e se deita mansamente sobre a grama.
Os japoneses, por exemplo, possuem uma filosofia que é a quintessência da sua estética ética. Wabi-Sabi é essa filosofia que enxerga a beleza nas coisas imperfeitas, transitórias e incompletas. Wabi-Sabi é, portanto, a beleza das coisas modestas e simples, das coisas não convencionais.
Wabi-sabi é uma forma de ver o mundo que nos ajuda a aceitar o ciclo natural de crescimento e declínio.
Quando a fotografia encontra a filosofia

Uma fotografia como esta expressa alguns dos ideais da filosofia Wabi-Sabi: a natureza integrada, a terra sagrada nas mãos, uma planta em seus ciclos, uma modelo maquiada de terra, nos lembrando de nossa dissolução na natureza e reafirmando a nossa transitoriedade.
A arte é do fotógrafo Ernesto Baldan, e a modelo é Dani Rotelli.
Postais-Oráculos: uma tecnologia poética da conexão
Abaixo, a esquerda, um Postal-Oráculo, de uma das minhas séries dos 365 Postais-Oráculos — Imaginação e Serendipidade, dialoga com a imagem. Os Postais-Oráculos são uma tecnologia poética da conexão. Uma tecnologia que também é sustentada pela filosofia do Wabi-Sabi.
O Ateliê Glória reflete a alma da artista botânica e modelo Dani Rotelli — que carrega no olhar expressivo e profundo essa filosofia do não convencional. Seu espaço transpira essa estética que é bela e, ao mesmo tempo, transitória. As famosas kokedamas, criadas por Dani e sua irmã Branca Rotelli, encantam pela exuberância e, ao mesmo tempo, pela simplicidade que é — simplesmente — ser planta.

A beleza que a natureza ensina
Foi uma alegria apresentar os Postais-Oráculos aos artistas Dani Rotelli, Luiz Salgado, Branca Rotelli e Divina Nunes, em um encontro de pausa, conversa e conexão. No aconchego desse momento, brotaram belas serendipidades — assim como a mensagem ao ‘acaso’ deste Postal-Oráculo: ‘Serendipidade é o encontro entre a intenção e o Mistério da Vida.
E se a vida também fosse feita de encontros mágicos e descobertas inesperadas?
Desacelerando, jardinando, fotografando, criando… percebi que, quando a gente abre espaço para o silêncio, o sentido começa, aos poucos, a florescer. Porque o silêncio não é vazio. É solo fértil onde o significado germina.
Que estas palavras sejam pequenas sementes.
Que floresçam beleza no seu caminho.
Que sejam um portal para mais sentido, mais significado,
mais encantos e serendipidades.
Foi assim pra mim. E desejo, de coração, que seja assim pra você também.
Com carinho,
Silvia Sant’Ana
Conheça a série Imaginação e Serendipidade — clique na imagem abaixo.
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