Série: Imaginação e Serendipidades. "Quando o acaso encontra a alma preparada"
- ciclopoetica
- 30 de mai.
- 4 min de leitura
Atualizado: 23 de jun.

"Assim como Alice imagino coisas impossíveis contemplando a estrela da manhã."
Silvia S. Sant'Ana
Dê um play antes de começar a leitura. A música de Hans Zimmer, Harold Faltermeyer e outros pode tornar sua experiência de leitura mais agradável e, ao mesmo tempo, profunda. Ajuste o volume, feche os olhos por alguns segundos e respire…Só então, permita-se seguir na leitura — e, quem sabe, uma serendipidade acontece.
Apresentação:
Imaginação e Serendipidade é sobre o nosso superpoder: a Imaginação — e sobre deixar que o acaso nos surpreenda com Serendipidades. Eu sempre penso em seis coisas impossíveis antes do café da manhã. Essa prática, inspirada em Alice no País das Maravilhas, envolve imaginar, sonhar e acreditar em surpresas felizes.

Aos 50 anos, desisti de ter certezas. Parei de me criticar por me sentir confusa sempre que preciso tomar uma decisão. A sensação de confusão é, para mim, um sinal — é o corpo avisando que algo está prestes a acontecer. E, por ser desconhecido, esse algo se manifesta com desconforto, estranheza... na mente, no corpo, num esquecimento de chave que nunca é por acaso.
A sensação de confusão, este estranho estado de não saber, também pode ser compreendida como uma forma de percepção sutil. O biólogo Rupert Sheldrake propõe que estamos em constante sintonia com campos invisíveis de informação, que organizam não só a matéria, mas também pensamentos e eventos. Às vezes, antes mesmo de algo acontecer, o corpo já sente — como se captasse, por antecipação, uma mudança no campo. Esquecer a chave, perder o trem, sentir um desconforto sem causa aparente... talvez tudo isso seja só o jeito que a vida tem de sussurrar: "algo está para acontecer".
De tanto colecionar eventos assim, passei a aceitar cada demora e cada esquecimento como um sinal, uma resposta de que algo está se desenhando. Às vezes, me esqueço disso — e que bom! Porque é justamente quando não estou esperando que a surpresa feliz acontece. Essa surpresa tem um nome curioso: Serendipidade.
Serendipidade é a capacidade de descobrir algo bom por acaso, transformando o comum em extraordinário, sem esforço ou planejamento. Em vez de seguir um itinerário previsível, o extraordinário surge nos desvios e nas surpresas do caminho.
Mas atenção: não adianta forjar atrasos ou buscar desvios esperando um milagre. O Universo não funciona sob comando, muito menos sob expectativa. É preciso se desligar, aprender a soltar — e confiar.
O hábito de planejar, controlar e seguir à risca roteiros onde tudo acontece como previsto nos conduz por caminhos seguros — e nos faz reencontrar apenas o que já é conhecido, já mapeado. No entanto, o extraordinário habita as curvas inesperadas da jornada — naquela rua em que nos perdemos achando que era, mas não era. O caminho “errado” muitas vezes nos leva ao porto certo — aquele que, talvez, já estivesse escrito nas estrelas. Mas não por nós.
Intenção: entre imaginação e serendipidade.
Essa Série é um convite.

Um convite para deixar que a "louca da casa" — como a chamou Gilbert Durand —, a Imaginação, assuma seu lugar à mesa. Que seja nossa aliada fiel, sobretudo diante dos sonhos esquecidos, dos tesouros enterrados, e da utopia — tão necessária — de imaginar um mundo mais bonito. É um chamado para resgatar a confiança nos nossos desejos mais ousados, nos sonhos mais auspiciosos e desafiadores. Mas também... um convite a sentir m ais. A controlar menos.
A permitir que práticas simples e sensíveis, como meditação e contemplação, ampliem nossa percepção, afinem nossos sentidos, e nos preparem para reconhecer — e reverenciar — as emoções mais profundas. Aquelas que chegam de mansinho, acompanhadas de intuições súbitas, de lampejos, de um saber que não passa pela razão. É sobre isso: confiar naquilo que ainda não sabemos, mas já sentimos.
Respiro filosófico para se conectar à imaginação e à serendipidade:

Para Jung, a imaginação ativa é um dos caminhos mais potentes de acesso ao inconsciente e aos conteúdos simbólicos da psique. Longe de ser mera fantasia, ela é uma função criativa da alma que nos conecta com o que há de mais profundo em nós. Quanto mais cultivamos a imaginação, mais sensíveis nos tornamos a esses encontros surpreendentes que a razão não explica, mas o coração reconhece.
A imaginação é a ponte entre o consciente e o inconsciente. Os símbolos, nascidos dela, são a linguagem da alma. — Carl Gustav Jung, O Homem e seus Símbolos
A famosa frase da Rainha Branca — “Às vezes, eu acredito em seis coisas impossíveis antes do café da manhã” — mostra que imaginar o impossível é um exercício de abertura, um treino da alma para acolher o imprevisível. É justamente nessa disponibilidade para o nonsense, para o desvio, que mora a serendipidade: a surpresa feliz que não se planeja, mas se permite.

Síntese:
“Perder o trem me levou a uma estação totalmente desconhecida: uma “primoutono”, onde flores brotam entre folhas secas e tudo parece recomeçar mesmo no fim.”
Convite:
Você já reparou como uma imagem — um postal, essa tecnologia poética da conexão — pode ser um portal? Uma fresta aberta no cotidiano, por onde o olhar atravessa e algo dentro da gente se move. Quando um portal se abre, é sinal de que chegou o momento de germinar nossos sonhos mais íntimos.
Os postais são sementes simbólicas de pensamento, sensação e memória. Eles nos convidam à reflexão e à conexão. Cada um carrega um fragmento de mundo, um espelho, um símbolo, um chamado.
Se você sentir o convite ecoar aí dentro e quiser revisitar comigo esses caminhos, ficarei muito feliz em te ouvir.
Gratidão por estar aqui comigo!
Livros do Acaso:
CARROLL, Lewis - Alice no País das Maravilhas
JUNG, Carl Gustav - O Homem e seus símbolos
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