Série: Poética dos Sentidos. Um retrato sensível do livro “Ciclo: uma poética dos sentidos e da percepção”
- ciclopoetica
- 30 de mai.
- 3 min de leitura
Atualizado: 24 de jun.

"Mais do que lógica e pensamento, é a poética dos sentidos que afina nosso modo de ver o mundo."
Silvia S. Sant'Ana
Apresentação:
Esta série de postais nasceu do desejo de prolongar o gesto contemplativo que deu origem ao livro Ciclo, em que imagem e pensamento se entrelaçam como raízes e frutos na mesma jabuticabeira. As fotografias que compõem a série são, em sua maioria, registros poéticos dessa árvore, que se tornou símbolo de permanência e transformação — de beleza e resistência sensível.

A Poética dos Sentidos é um caminho que venho trilhando desde a conclusão do meu Mestrado em Filosofia, quando me debrucei sobre o tema da percepção no pensamento de Merleau-Ponty. Desde então, venho depurando o olhar e o sentir, certa de que a razão, embora valiosa, não é o único caminho para compreender o mundo e a nós mesmos. Por isso, Poética dos Sentidos: uma forma de habitar o mundo que une pensamento e sensibilidade. Para além da caneta, a câmera tem sido minha aliada nesse exercício de ver e sentir — e não apenas pensar.
Cada frase inscrita nos postais é uma condensação de uma vivência: não apenas uma ideia, mas um corpo de percepção. Essas palavras nascem de um estado de presença, de um olhar que se demora e que se espanta — como nos ensina Merleau-Ponty em Fenomenologia da Percepção, a essência das coisas não se revela a um olhar apressado, mas emerge no silêncio atento do corpo que vê e sente.
Ao lado disso, a fotografia aqui não é mero registro, mas gesto de cuidado: fotografamos, talvez, aquilo que não suportaríamos esquecer. Como afirma Chris Orwig, é na luta criativa entre luz e sombra que se revela a beleza do mundo — uma beleza que, mais do que estética, é vital. É também essa beleza que a alma humana carece e, por isso, persegue.

Inspirada pelo movimento das metamorfoses, como as de Alice em sua jornada subterrânea, esta série também é uma viagem pelo interior da percepção. Alice nos ensina a ver o mundo como se fosse a primeira vez, com espanto e estranhamento — condição fundamental para qualquer transformação real. A vida, afinal, não se trata de resistir ao movimento, mas de mover-se com empenho, persistência e entrega ao que se revela.
Dialogando com A Estrutura do Comportamento e com o pensamento sistêmico de Fritjof Capra em O Ponto de Mutação, esta série reconhece que o mundo e o corpo estão em fluxo, e que é no entrelaçamento entre sujeito e ambiente que o sentido emerge. Por isso, os Postais são também testemunhos de uma ecologia da percepção: ver o mundo não como objeto, mas como paisagem que pulsa junto conosco.
Postais – Poética dos Sentidos é, por fim, um convite. Um chamado a olhar devagar, a sentir com mais profundidade, a deixar-se tocar pelo instante. Porque apenas um anseio vital por transformação faria uma lagarta romper seu casulo. E talvez, ao contemplar essas imagens e palavras, possamos escutar esse chamado sutil dentro de nós.
Intenção:

Poética dos Sentidos é um convite a olhar — a dilatar as pupilas do espírito — e a despertar o espanto diante do mundo ao nosso redor. Que cada postal seja um chamado a ver, inspirar, tocar com os olhos e permitir que a experiência sensível nos conduza para além do visível. Há um invisível que nos envolve: o ar, os aromas, as formas da imaginação, o próprio sentir — que não se pega, não se arranca, não se carrega. É dessa ordem sutil que nasce a poética dos sentidos. Que esta série nos proporcione momentos de presença, em que uma percepção mais sensível e estética floresça, especialmente diante daquilo que escapa aos padrões da beleza tradicional. Porque há beleza também na imperfeição — naquilo que resiste, transforma e pulsa.

Síntese:
“A jabuticabeira me convidou a fotografá-la, a silenciar os pensamentos e a sentir. E cá estou, lapidando o meu olhar para ver o invisível — o Mistério.”
Convite:
Você já reparou como uma imagem — um postal, essa tecnologia poética da conexão — pode ser um portal? Uma fresta aberta no cotidiano, por onde o olhar atravessa e algo dentro da gente se move. Quando um portal se abre, é sinal de que chegou o momento de germinar nossos sonhos mais íntimos.
Os postais são sementes simbólicas de pensamento, sensação e memória. Eles nos convidam à reflexão e à conexão. Cada um carrega um fragmento de mundo, um espelho, um símbolo, um chamado.
Se você sentir o convite ecoar aí dentro e quiser revisitar comigo esses caminhos, ficarei muito feliz em te ouvir.
Gratidão por estar aqui comigo!

Livros que inspiram:
CAPRA, Fritijof — O Ponto de Mutação
CARROLL, Lewis — Alice no País das Maravilhas
MERLEAU-PONTY, Maurice — Estrutura do Comportamento
MERLEAU-PONTY, Maurice — Fenomenologia da Percepção
ORWIG, Chris — A Luta Criativa
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