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Série: Ninho e Resistência. Pois, criar é proteger um campo.

Atualizado: 2 de jul.

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"Aninhar uma ideia é arte delicada — como a espera, como o germinar — e essencial para vencer a resistência."

Silvia S. Soares



Dê um play antes de começar a leitura. Clique no vídeo abaixo e permita que a música te acompanhe nesta travessia.


“Gabriel’s Oboe”, de Ennio Morricone, é mais do que uma melodia —é um chamado ao silêncio, à escuta e ao cuidado. Ela abre um espaço dentro de nós, como um ninho: onde os sonhos repousam, as ideias se aquecem, e os projetos pedem tempo, presença e proteção para crescer. 
Enquanto você ouve, permita que as imagens e palavras deste oráculo te toquem com suavidade. Respire fundo. Sinta. Receba. E permita que a pausa te ofereça os insights necessários para seguir no caminho de construção dos seus sonhos adormecidos.


Apresentação:

Ninho e Resistência é uma série muito especial. Ela retrata minha experiência como observadora do processo de uma sabiá construindo seu ninho — com o próprio bico, carregando gravetos, moldando com o corpo — em parceria com seu companheiro, o sabiá macho. Dei nomes a essas criaturas mágicas e admiráveis que escolheram minha varanda, meu quintal, para criar um lar e gestar seus ovos.

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Ela se chama Ananda, nome de origem sânscrita que significa “Bem-Aventurança” ou “Alegria Suprema”. No Budismo, Ananda foi um dos discípulos mais próximos de Buda Gautama, conhecido por sua memória prodigiosa e por sua grande compaixão. O sabiá macho chamei de Chico — na dúvida entre Xavier e de Assis. Como não quis escolher entre esses dois santos que tanto admiro, deixei apenas "Chico", mas faço questão de contar essa dúvida para que fique claro que não se trata do Chico Bento.


Registrar e observar o movimento de Ananda e Chico me conduziu a reflexões filosóficas profundas sobre o processo criativo. Enquanto Ananda aninhava, cuidava e descansava no ninho, eu, do outro lado da janela, sentada à escrivaninha, também cuidava e cultivava presença — escrevendo. Ananda gestava seus ovinhos; eu, ideias. Criar exige esse estado de presença cuidadosa e vigilante. Exige também parcerias, aliados e companheiros de jornada, pois a troca de ideias é profundamente fecunda — sem ela, a criação muitas vezes não sai do papel.


A cada novo gesto de Ananda, crescia em mim a curiosidade e o encantamento com as semelhanças entre seu fazer e o ato de criar. Para meu espanto, percebi que a Resistência — aquela que tantas vezes assombra o processo criativo — também se manifestava na varanda, na forma de pássaros parasitas: os famigerados chupins, que se aproveitam do ninho alheio para depositar seus ovos. O mais intrigante é que, embora meu quintal receba a visita de várias espécies, os chupins só aparecem quando Ananda está gestando.


Na vida cotidiana, quando estamos no modo passivo — assistindo novela, noticiário, maratonando séries — a resistência não se manifesta. O conforto nos convence de que tudo pode permanecer como está. Mas ao plantarmos uma ideia criativa na mente, nosso campo interno sente a iminência da mudança — e então ela aparece: a Resistência. E se instala, como alerta Steven Pressfield em A Guerra da Arte, sob múltiplas formas: chocolate, sexo, drama familiar, vitimização, auto dramatização, automedicação, parceiros predadores, e por aí vai... A Resistência é tudo aquilo que nos impede de criar e de alimentar nossa criatividade.


As fotografias desta série foram feitas na minha varanda. A maioria foi registrada de dentro da minha cozinha. Embora Ananda tenha se acostumado com minha presença, se eu me aproximava demais ou buscava outro ângulo, ela voava. As imagens revelam meu olhar cotidiano: às vezes embaçado, com sombras, com pouca ou muita luz. São imagens que me inspiram a pensar sobre minha existência, meus conflitos e limitações. Imagens que me fazem sorrir por lembrar que nem tudo está como eu gostaria — mas ainda assim me alegram e, de algum modo, me nutrem.

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Talvez o ninho não seja apenas um lugar de abrigo, mas também um espelho. O que estamos gestando com nossos dias? Com que presença cuidamos daquilo que queremos ver florescer? Assim como Ananda, somos todos chamados a criar, apesar da ameaça constante dos chupins internos e externos. Que esta série inspire você a observar seus próprios ninhos — reais ou simbólicos — com mais ternura, coragem e atenção. Porque criar é, antes de tudo, um ato de resistência.



Intenção:

Que esta série seja um convite para que você observe seus próprios ninhos — suas criações, sonhos e aspirações. Que perceba como a Resistência surge sempre que decidimos criar, transformar ou sair da zona de conforto. Ela é uma força natural, silenciosa e persistente, que se apresenta como medo, procrastinação, distração ou dúvida. Mas, assim como Ananda persiste em seu gesto de construir, mesmo diante dos chupins, nós também podemos seguir, passo a passo, fiando nossos próprios galhos e ideias.

Criar é sempre um ato de coragem. E toda coragem nasce da presença amorosa. Que estas imagens, feitas entre a cozinha e o coração, te inspirem a acolher a beleza da construção diária — com suas sombras, imperfeições e luzes — e a continuar gestando o que te nutre, mesmo quando o mundo parece querer te distrair.

Porque resistir à resistência é também um jeito de aninhar-se em si.


Respiro Filosófico:

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Aninhar uma ideia é proteger um campo. Esta série foi inspirada em Clarissa Pinkola Estés, Steven Pressfield e Rupert Sheldrake. Clarissa nos lembra, com maestria, dos predadores arquetípicos — externos e internos. Pressfield descreve, com precisão, o percurso completo da Resistência: da semente criativa ao enfrentamento diário. Sheldrake nos introduz aos campos mórficos, estruturas invisíveis que conectam formas, comportamentos e memórias, revelando que, na natureza, há muito mais do que simples matéria.

"Ninho e Resistência" propõe uma reflexão poética e filosófica sobre o processo criativo como gesto de gestação e vigilância. Assim como a sabiá Ananda prepara seu ninho com delicadeza e coragem, ao criar também ativamos campos sutis que atraem forças de nutrição — aliados, encontros, parcerias — mas também forças de sabotagem. A presença dos chupins simboliza esses predadores do invisível: distrações, medos, interferências e dúvidas que rondam toda criação verdadeira.

Observar é um ato de presença. Criar é um ato de resistência. Cada imagem desta série convida à escuta do campo criativo e à valorização do esforço sagrado de proteger o que ainda está por nascer.


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Síntese:
"Para gestar minhas ideias, precisei dizer não a todo tipo de ruído externo e aos dramas do mundo."

Convite:
Você já reparou como uma imagem — um postal, essa tecnologia poética da conexão — pode ser um portal? Uma fresta aberta no cotidiano, por onde o olhar atravessa e algo dentro da gente se move. Quando um portal se abre, é sinal de que chegou o momento de germinar nossos sonhos mais íntimos.
Os postais são sementes simbólicas de pensamento, sensação e memória. Eles nos convidam à reflexão e à conexão. Cada um carrega um fragmento de mundo, um espelho, um símbolo, um chamado.
Se você sentir o convite ecoar aí dentro e quiser revisitar comigo esses caminhos, ficarei muito feliz em te ouvir.

Gratidão por estar aqui comigo!

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Livros contra a resistência: 

ESTÉS, Clarissa Pinkola— - Mulheres que correm com os Lobos

PRESSFIELD, Steven  — A Jornada do Artista

SHELDRAKE, Rupert — A Sensação de Estar Sendo Observado

 
 
 

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