Série: Filosofia de Jardim. Uma jornada filosófica pelos campos visíveis e invisíveis da natureza
- ciclopoetica
- 30 de mai.
- 5 min de leitura
Atualizado: 10 de jun.

"Quando esqueço das minhas histórias, memórias e de mim mesma, vou ao Jardim. Ao respirar, sentir a terra, o orvalho e o sol, lembro-me de quem sou."
Silvia S Sant'Ana
Apresentação:
Quando pisamos no jardim, a inspiração se aprofunda e a expiração se alonga. O jardim é mais que terra, planta e flor. O jardim é um campo dos sonhos e também um campo mórfico. Podemos também dizer que um jardim é um laboratório natural de alquimia, onde tudo se dissolve e coagula.

O campo dos sonhos é um espaço conhecido — um ambiente onde plantamos, regamos e cultivamos nossos sonhos. É um território sutil, onde estão ocultos nossos tesouros e desejos mais íntimos. No jardim, se lhe dedicamos atenção e presença, conquistamos por direito existencial aquilo que nos pertence: nossa essência.
O campo mórfico, por sua vez, refere-se ao mesmo espaço, mas sob a perspectiva do invisível. São padrões de informação e organização que vibram e se manifestam de acordo com nossos próprios movimentos e intenções. Trata-se dos moldes que regem as plantas, as ervas, as árvores e seus modos de interagir entre si — tanto no espaço local quanto em sintonia com outros jardins, outras terras. Essas formas invisíveis de estrutura e conexão sustentam o campo vital que nos atravessa. Nas palavras de Rupert Sheldrake: “A memória da natureza está inscrita em campos invisíveis, que ligam o passado ao presente e moldam o futuro.”
A filosofia que se pensa e se reflete nesse espaço é fruto não apenas das ideias que brotam localmente, mas também de uma ressonância profunda com saberes ancestrais e contemporâneos — com livros, culturas e pensadores, vivos ou não — que, sem saber, desenham o nosso futuro.
Essas formas invisíveis de estrutura e conexão sustentam o campo vital que nos atravessa. Nas palavras de Rupert Sheldrake: “A memória da natureza está inscrita em campos invisíveis, que ligam o passado ao presente e moldam o futuro.” O jardim, assim, revela-se não apenas como um campo dos sonhos e um campo mórfico, mas também como um espaço alquímico — onde forças sutis se encontram para transformar, integrar e dar forma ao invisível.
Uma nuvem que transita sobre o nosso jardim, nossa casa, nossa cidade, veio de um lugar distante e carrega informações que não conhecemos. Como ensina Thich Nhat Hanh, a nuvem é também a árvore, a flor, o papel onde escrevemos — porque tudo o que existe, interexiste. Assim também são os pássaros, que chegam diariamente no mesmo horário para se alimentar — e ainda convidam outros de espécies diferentes a partilhar do espaço.
Cada forma de vida num jardim nos oferece ajuda, nos traz ideias, assim como os pássaros trazem, de longe, sementes. Sementes são ideias. Ideias são sementes.
O ar que nos inspira sopra trazendo notícias do Norte, do Sul, do Leste e do Oeste. O vento é um aliado sábio: ele carrega mensagens certeiras, desde que saibamos sentir sua direção e intensidade. A chuva é uma visitante auspiciosa — ela nutre, amacia a terra, relaxa seu corpo e refresca as sementes, germina as ideias.
A terra está sempre presente em sua postura de aterramento. Ela é estrutura, firmeza, estabilidade. Para que um pensamento possa germinar e se desenvolver, precisa de corpo. Um corpo colapsado, não aterrado, não sustenta uma ideia — e elas, geralmente, são terríveis no sentido de provocarem grandes transformações. Quer aprender a sentir a vida? Cave profundo. Mexa na terra. Ela mexerá em você.
O sol, ao atravessar os galhos de uma árvore, nos presenteia com feixes de luz, energia e calor. Ele representa o fogo — a fogueira mágica que aquece as raízes das plantas e também a nossa motivação interna. Essa motivação cresce quando estamos sintonizados com a riqueza que vibra ao nosso redor, tanto no externo quanto no interno. Assim, nossa fogueira se acende, dando vida aos sonhos que são recordados, às histórias que são criadas, às ideias que desejam ser germinadas.

O éter — ou espaço — nos oferece a possibilidade de desenvolver nossa habilidade de atenção e presença. Conectar-se a esse elemento sutil é abrir-se para a escuta e para a consciência. Nada flui com a mente pensante e cansada. Mas a mente do jardineiro está sempre fértil, fluindo e florescendo na presença.
O jardim é campo de visão, de intuição e de criação. Ele atravessa nossa consciência com beleza, com leveza e com propósito. Quando se está no jardim, é o jardim que ensina. Ao limpar, enfeitar e cuidar de um jardim, os pássaros vêm. E a Musa também. Cultivar um jardim é também cultivar o espírito. É construir um espaço de escuta, presença e transformação. O jardim nos atravessa — quer queiramos ou não. Cuide. Prepare. Perfume-se. Dissolva-se… e veja o milagre acontecer. Se uma crisálida pode se tornar borboleta, também podemos transformar nossos sonhos em realidade.
Intenção:

Minha intenção com esta série é convidar você a se abrir às possibilidades que habitam o Jardim — esse campo de sonhos, esse espaço sutil onde se entrelaçam memórias, desejos e informações invisíveis.—
Quanto mais nos conectamos com a natureza e permitimos que nosso corpo — também feito de terra, água, fogo, ar e éter entre em contato com os elementos ao nosso redor, mais profundamente acessamos nossas próprias camadas internas: memórias, intuições, sonhos esquecidos, desejos adormecidos.
Muitas vezes buscamos respostas no mundo exterior, mas, como já disseram os grandes mestres e filósofos, tudo o que realmente importa já está dentro de nós — esperando o momento certo de florescer.

Síntese:
"Plantei, reguei e cuidei de um pequeno jardim — e ele, em gratidão, me deu frutos doces e fez florescer estes postais-poemas."
Convite:
Você já reparou como uma imagem — um postal, essa tecnologia poética da conexão — pode ser um portal? Uma fresta aberta no cotidiano, por onde o olhar atravessa e algo dentro da gente se move. Quando um portal se abre, é sinal de que chegou o momento de germinar nossos sonhos mais íntimos.
Os postais são sementes simbólicas de pensamento, sensação e memória. Eles nos convidam à reflexão e à conexão. Cada um carrega um fragmento de mundo, um espelho, um símbolo, um chamado.
Se você sentir o convite ecoar aí dentro e quiser revisitar comigo esses caminhos, ficarei muito feliz em te ouvir.
Gratidão por estar aqui comigo!
Livros que atravessam:
BLASCHKE, Jorge — Somos Energia, O Segredo Quântico e o Despertar das Energias.
CAIN, Susan — O Poder dos Quietos.
ESTES, Clarissa Pinkola - Mulheres que Correm com os Lobos
HAN, Byung-Chul — Louvor à Terra.
HANH, Thich Nhat — Sem Lama Não Há Lótus.
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