Série: Entardecer das Rosas. Uma contemplação poética sobre a beleza, o tempo e o adeus.
- ciclopoetica
- 31 de mai.
- 4 min de leitura
Atualizado: 24 de jun.

"O entardecer das rosas é uma travessia poética — uma despedida com perfume e rastro doce."
Silvia S. Sant'Ana
A música Gladiator Rhapsody, de Hans Zimmer, pode tornar sua experiência de leitura ainda mais profunda e sensível. Dê o play no vídeo acima, ajuste o volume, feche os olhos por alguns segundos e respire… Só depois, permita-se seguir na leitura. Aprender com as rosas a "entardecer"... é um ato tão essencial quanto respirar.
Apresentação de um Entardecer:
Esta série é um gesto de cuidado com o que desabrocha e, sobretudo, com o que se desfaz. Um ensaio sensível sobre a impermanência da vida, em forma de palavras, perfumes e imagens. Inspirada pela filosofia estóica de Sêneca, que nos lembra da brevitas vitae, a vida curta demais para ser desperdiçada com o que não importa, O Entardecer das Rosas é também um tributo à arte de morrer um pouco a cada dia — e, com isso, viver plenamente.

As fotografias dessa série são imagens de quase-morte que capturam o final de um ciclo — o desfazer-se em pó. A escolha por flores murchas, secas, aparentemente sem vida, é intencional: a vida não se faz apenas de nascimentos. Há sabedoria e beleza nos finais. Aprender a ver o fim de um ciclo — ainda que de uma rosa — pode nos ensinar a atravessar as despedidas mais difíceis: não apenas aquelas com pessoas queridas, que seguirão habitando em nosso coração, mas também com momentos intensos, incríveis, que jamais voltarão a acontecer da mesma forma.
O entardecer torna-se, assim, um símbolo do instante liminar entre o que ainda é e o que já está indo. Ichigo Ichie, expressão japonesa que pode ser traduzida como “um encontro, uma oportunidade”, atravessa este trabalho como sopro de lembrança: cada instante é único e irrepetível. E por isso mesmo, precioso.
Na estética japonesa do Wabi-Sabi, que valoriza o imperfeito, o impermanente e o incompleto, encontramos o solo fértil sobre o qual germina a beleza que não busca durar, mas apenas ser. Cada frase da série se constrói como uma pétala solta, dançando antes de tocar o chão. A delicadeza não está apenas no florescer, mas também na queda. Não há tragédia no fim, apenas o ciclo da vida revelando sua profundidade.

Como escreveu Montaigne, filosofar é aprender a morrer. Este projeto é, portanto, um ensaio — no sentido literário e existencial — sobre o entardecer daquilo que foi, daquilo que amamos, e daquilo que inevitavelmente deixamos partir. Mas também é uma celebração. Porque, mesmo ao cair da tarde, há beleza, há perfume, há memória.
O Entardecer das Rosas é uma travessia poética por essa luz tênue e dourada que precede a noite, onde o silêncio sussurra o que as palavras não dizem. Onde o colibri parte, mas o jardim floresce por tê-lo recebido. Onde até a despedida deixa seu rastro doce.
Intenção:
“O Entardecer das Rosas” é um convite à contemplação do visual e poético sobre a impermanência. Uma ode silenciosa aos finais — dos ciclos, das flores, dos encontros, dos momentos — que nos desafiam a cultivar presença, aceitação e beleza mesmo diante da dissolução. Esta série convida à contemplação do efêmero, ao cuidado com o que parte, e à delicada arte de deixar ir.”

Respiro filosófico no entardecer:
Na filosofia de Sêneca, o tempo é o bem mais precioso e mais desperdiçado. Em "De Brevitate Vitae", ele afirma que a vida não é curta, mas nós é que a tornamos curta ao negligenciarmos o que realmente importa. Esta série nasce do desejo de não desperdiçar o entardecer — essa metáfora do fim — mas de habitá-lo com presença e reverência. Ao fotografar o murchar das flores, realiza-se um gesto contra o esquecimento: há valor também no que se desfaz, há vida mesmo na quase-morte.
Por sua vez, Montaigne, nos Ensaios, lembra que filosofar é aprender a morrer. Essa aprendizagem não é mórbida, mas profundamente libertadora: ao acolher a finitude, aprendemos a viver com mais inteireza. Assim, “O Entardecer das Rosas” não é um lamento pela morte, mas um treinamento sensível para a vida — através do reconhecimento de sua transitoriedade.
A série, portanto, não busca eternizar o instante, mas habitá-lo com amor, consciência e gratidão. Ela nos lembra, como no ensinamento japonês do Ichigo Ichie, que cada momento é único e irrepetível, e por isso, digno de atenção plena, mesmo que envolto em fim.

Síntese
"A entrega de um ciclo, a celebração de um entardecer, é um renascimento — jamais o fim."
Convite:
Você já reparou como uma imagem — um postal, essa tecnologia poética da conexão — pode ser um portal? Uma fresta aberta no cotidiano, por onde o olhar atravessa e algo dentro da gente se move. Quando um portal se abre, é sinal de que chegou o momento de germinar nossos sonhos mais íntimos.
Os postais são sementes simbólicas de pensamento, sensação e memória. Eles nos convidam à reflexão e à conexão. Cada um carrega um fragmento de mundo, um espelho, um símbolo, um chamado.
Se você sentir o convite ecoar aí dentro e quiser revisitar comigo esses caminhos, ficarei muito feliz em te ouvir.
Gratidão por estar aqui comigo!
Biblioteca da Impermanência:
KOREN, Leonard – Wabi-Sabi para Artistas, Designers, Poetas & Filósofos.
MONTAIGNE, Michel de – Ensaios
SÊNECA – Sobre a Brevidade da Vida
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